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terça-feira, 20 de abril de 2010

Sangue de cordão umbilical é mais usado do que medula



A ciência acreditava que as células-tronco só existiam nos embriões. Hoje, elas são retiradas de várias partes do corpo.

"Vanessa literalmente nasceu de novo. No dia 8 de outubro de 2004, em que ela fez o transplante, ela nasceu novamente", diz Mary Regina Canal, mãe da menina.
Vanessa Canal, de 14 anos, conta o que faz agora que não podia fazer antes: “comer um monte de coisas, tomar sorvete, nadar, ir no mar, tomar sol e muito mais coisas".
A menina que tem fome de viver é nossa velha conhecida. Ela foi entrevistada pelo Globo Repórter em 2005.
Ele tinha várias restrições, depois de passar por três tratamentos de quimioterapia. E não deu certo. A opção, então, era o transplante de medula, mas Vanessa não achava um doador compatível. Quando tudo parecia perdido, um cordão umbilical salvou a vida dela. “Eu fui o primeiro caso de sangue de cordão brasileiro. Foi uma vitória maravilhosa", reconhece Vanessa.
Página virada na vida de Vanessa. Esse é um sonho que está alimentando a esperança da família do Leozinho - um guerreiro que, antes mesmo de completar um ano, teve que começar uma enorme batalha pela vida.
"Desde bebezinho, ele tinha umas manchas e nós achávamos que era picada de inseto. A gente levava no pediatra, e ele falava que não era nada, que ele era alérgico. E nós levávamos em todos os hospitais, iam a um médico e ele falava uma coisa, a gente ia a outro. A gente levava muito ele ao hospital, eu não entendia, porque ele chorava tanto e vomitava tanto”, conta Adriana Cândido, avó de Leonardo.
Demorou um ano a peregrinação por médicos e hospitais até o diagnóstico, com aquela palavra que ninguém quer ouvir.
"A doença do Leo chama leucemia mielomonocítica juvenil. E é uma doença que a quimioterapia não cura. Eu preciso trocar o tipo de medula dele, dar pra ele a medula de uma pessoa saudável, ou medula ou sangue de cordão com célula-tronco hematopoiética de uma pessoa saudável para começar a produzir sangue e ajudar a brigar contra o tipo de leucemia", afirma a pediatra Adriana Seber, Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAAC).
O sangue de cordão umbilical é cada vez mais usado no lugar da medula, por não exigir 100% de compatibilidade. O banco público brasileiro ainda é pequeno, porque as doações ainda são recolhidas em poucas maternidades. Mas nem se compara com a época da luta de Vanessa, cinco anos atrás. Leozinho conseguiu rapidamente um cordão, e pode fazer o transplante a qualquer momento.

"Seis meses atrás, era para ele ter feito o transplante, mas ele ficou na UTI com pneumonia", lembra Tainara, mãe de Leonardo, e Adriana, avó do menino.
Leozinho está muito gripado, e uma nova tentativa de internação será feita em duas semanas. Voltamos no prazo, e nada do Leo melhorar. "Ele piorou, deu febre. Fizeram os exames, fizeram uma tomografia, e deu que ele tem sinusite. Então, a gente está cuidando da sinusite", diz a avó do menino.
Catorze dias de antibiótico, e fomos para a consulta de avaliação. Leo foi reprovado novamente no exame clínico. "infelizmente, ele estava com um quadro viral e sinusite também. Então, não vai poder internar, e agora a mãe está gripada, o pai gripado. Agora, é esperar ele melhorar”, diz a oncologista Roseana Gouveia, do GRAAC.
Serão mais 15 dias de espera, mas, se depender da torcida, vai dar tudo certo. E Leozinho ainda vai cantar sua música preferida por muitos e muitos anos.
No começo, a ciência acreditava que as células-tronco só existiam nos embriões, mas isso já é a pré-história da pesquisa. Hoje, elas são retiradas de várias partes do corpo e, pela capacidade que tem de se transformar em outros tecidos, são consideradas verdadeiros coringas no jogo da vida.
E foi com um desses "coringas" que a faxineira Marcicleide Sério voltou a enxergar. "Nada melhor do que você acordar, abrir o seu olho e ver o mundo. Eu acordava, abria o olho e não via quase nada. Eu não saía no sol. Aliás, eu não saía de casa. Só acompanhada, para eu sair de casa. Agora não, eu saio sozinha, vou trabalhar, graças a Deus. Estou muito feliz. Cada dia mais, eu agradeço a deus", conta.
Nessas orações também estão os médicos do Instituto da Visão da Universidade Federal de São Paulo. Eles estão usando células-tronco para corrigir lesões muito graves na película que reveste o olho.
"Quando a doença pega um olho só, sempre é uma situação mais fácil, porque, no caso dos olhos, nós temos um irmão idêntico do outro lado. Então, você pega um pouquinho de tecido com células-tronco de um olho e transplanta para o outro. Então, você consegue restaurar a superfície desse olho afetado. Quando a doença está nos dois, é um problema", explica o oftalmologista José Pereira Gomes, Unifesp.
Mas esse problema também já tem solução à vista. Só que a fada do dente vai ter que se aposentar. A ciência encontrou no dentinho de leite um verdadeiro tesouro de células-tronco.

"Esse período do desenvolvimento da criança é muito vantajoso para isolar as células-tronco, porque, nesse momento, já se formou o organismo adulto, já é composto pelas células adultas, mas, ao mesmo tempo, ainda continua o desenvolvimento do organismo. Então, nesse momento, as células-tronco são ainda mais poderosas do que quando elas são isoladas do organismo adulto", explica a bióloga Irina Kerkis, Instituto Butantan.
É incrível! Até os médicos ficaram surpresos quando descobriram que a polpa do dente de leite poderia se transformar em tecido para curar olhos doentes.
"A partir do momento em que eu fui conhecendo melhor a potencialidade da célula-tronco do dente de leite e as vantagens dela, pelo fato dela não iniciar processo de rejeição, pelo fato dela conseguir se diferenciar em vários tipos de célula, eu fiquei realmente animado pelo que nós pudemos constatar no modelo animal", conta o oftalmologista José Pereira Gomes, Unifesp.
Os coelhinhos da pesquisa voltaram a enxergar. Os cientistas do Instituto Butantã e da Unifesp já têm autorização para usar a técnica nos pacientes com lesões graves, mas, antes, eles querem entender melhor, porque a célula-tronco nem sempre se liga com perfeição aos tecidos do corpo que precisam ser restaurados.
"Mesmo com a córnea, a gente vê que às vezes existe uns pequenos erros na formação da córnea. Reconstituiu bonito, mas não é tão bonito como a gente gostaria que fosse. Até enxerga, mas a gente gostaria de melhorar. Então, a gente quer ver o que a gente ainda pode melhorar", diz a Dra. Irina.
O certo é que a polpa do dente é uma célula-tronco poderosa, pode virar osso, cartilagem, músculo. Assim, "era uma vez" aquele pingente que tanto enfeitou mães e vovós. Agora, é no laboratório que o dentinho vale ouro.

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