Pesquisar neste blog

sábado, 13 de março de 2010

Medicina indiana utiliza mais de 500 ervas Gengibre, que pode ser encontrado no Brasil, age contra as doenças respiratórias.

Talvez nenhuma outra medicina use tanto as plantas como a medicina tradicional indiana, conhecida como ayurveda, a ciência da vida. Muitos vão buscar tratamento na cidade indiana de Pune.
A equipe do Globo Repórter acompanhou a médica ayurvédica Sonali Shinde e uma aluna brasileira dela, Joana Rodrigues, na feira. Logo que chega ao mercado, a médica vai identificando todas as ervas. Mais de 500 podem ser usadas nesse tipo de medicina.

Logo fomos apresentados ao amalaki. Parece uma ameixa, mas não tem no Brasil. É muito valorizado na ayurveda por ter cinco sabores em uma só fruta: é doce, amargo, azedo, apimentado e adstringente. Só não é salgado.

Mas no mercado de Pune é possível encontrar produtos bem conhecidos dos brasileiros. Um produto que tem muito no Brasil, o gengibre, é da maior importância na medicina ayurveda.

“Quando cozinhamos os legumes, usamos gengibre. Ele digere as toxinas no corpo e age contra as doenças respiratórias, como a sinusite”, diz a médica Sonali Shinde.

A doutora explica que a hortelã age contra o que a medicina indiana chama de vata, a força do ar: reduz dores e gases abdominais e por isso acompanha bem as comidas mais pesadas.

Seguimos nossa busca pelo mercado de Pune.

“O abacaxi é ótimo para melhorar o tecido sanguíneo, mais especificamente o plasma. E é ótimo também para eliminar vermes e lombrigas. Então, mesmo como medida preventiva, de vez em quando deve-se comer abacaxi”, orienta Joana Rodrigues.

As cenouras, que na Índia são avermelhadas, são usadas nos doces.

“A goiaba tem uma propriedade adstringente também. Tudo o que é adstringente fecha as glândulas salivares. Então, paramos de ter vontade de comer mais. Por isso, é ótima para depois das refeições”, diz Joana Rodrigues.

Feitas as compras, doutora Sonali Shinde nos convidou para ir até a casa dela. Ela preparou a refeição com os produtos que comprou na feira.

Enquanto elas preparavam o almoço, fomos conhecer os alimentos mais importantes para a ayurveda, que ajudam a conseguir uma saúde perfeita. Podem ser consumidos por qualquer tipo de pessoa, em qualquer estação.

O arroz, cultivado em 60 dias, deve ser consumido um ano depois da colheita. Feijão mungo, um tipo de feijão verde, comum na Ásia, é de fácil digestão. E também passas pretas, mel, romã, abóbora – que no Nordeste tem o nome indígena de jerimum – e amalaki – a fruta dos cinco sabores, único desses alimentos que não tem similar no Brasil.

“Ela é rejuvenescedora. Mesmo cozida e seca, não perde a vitamina C. E tem cem vezes mais vitamina C que a laranja”, ressalta Sonali Shinde.

Depois, sobre folhas de bananeira, Sonali Shinde e Joana Rodrigues foram servindo a refeição. Um pouco de sal, limão, uma pasta de pimenta, romã, pão indiano. Mais uma vez, sabores variados.

Na Índia, a refeição começa pela sobremesa. E tem que ser com a mão direita. No início da refeição, o doce tira a fome mais intensa. Mas tem ainda algo curioso: soro de leite de uma vaca feliz. É isso mesmo: os indianos dizem que, para o leite ser bom, a vaca tem que viver solta, nos campos e nunca confinada.

Espinafre com queijo branco, arroz com um pouco de manteiga cozida em cima e batata com gengibre, alho, pimenta e coentro.

“É uma refeição completa para uma pessoa ativa. Ela tem todos os seis gostos, é equilibrada. Você não come apenas arroz, não come só trigo, ou apenas comida crua. A ayurveda não aconselha isso. Um pouco de cada coisa é bom para o seu corpo”, ressalta Sonali Shinde.

Para quem está acostumado a comer carne é um pouco difícil. Mas uma recomendação da medicina indiana serve para todos: sempre que der, deixe de lado as comidas prontas.

“Cozinhe só o que você precisa e coma em seguida. Este é o mantra da saúde”, define Sonali Shinde.

Raiz é capaz de aniquilar tumores cancerígenos

A equipe do Globo Repórter viajou para Goiás em busca de uma riqueza pouco explorada. No cerrado brasileiro, uma especiaria trazida da Índia se adaptou bem. Pelo nome, pouca gente conhece o cúrcuma. É uma planta da família do gengibre. A parte usada na culinária fica na raiz. Depois de seca e moída, ela vira um ingrediente que a dona de casa chama de açafrão.

Indisponivel/Indisponivel

Raiz de cúrcuma, de onde é extraída a curcumina

"Na raiz encontram-se todos os componentes do açafrão, inclusive o corante, que é a curcumina, que é bem amarela”, explica o engenheiro de alimentos Celso José de Moura, da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Celso José de Moura explica que a planta dá em qualquer lugar e requer pouca água. Mas o sabor do açafrão da terra, como é conhecido na região, caiu no gosto do povo goiano. Uma boa galinhada fica bem amarela por causa do tempero.

Mas o que ninguém conhecia era o poder de cura dessa raiz. A riqueza maior da cúrcuma está sendo descoberta nos laboratórios da UFG. “Quanto mais pesquisamos mais nos empolgamos porque o número de doenças em que ele tem se mostrado ativo é realmente impressionante”, diz a química Lídia Andreu.

A curcumina, um pó amarelo extraído da raiz, é cicatrizante e antiinflamatório. É usada há mais de cinco mil anos na ayurveda, a medicina tradicional indiana. Por isso, Marcella Carneiro, uma bióloga apaixonada por plantas medicinais, questionou: seria a curcumina poderosa também contra o câncer?

Marcella aplicou a curcumina sobre células com melanoma, o mais grave tipo de câncer de pele. Em poucas horas, um resultado impressionante.

“Nossos testes demonstraram que ela matou 90% de células de melanoma. A curcumina pode agir de duas maneiras: impedindo o crescimento das células cancerígenas e provocando a morte celular, aniquilando o tumor”, esclarece Marcella Carneiro.

O núcleo das células com câncer é implodido pela curcumina, mas os pesquisadores ainda não sabem os efeitos colaterais. Em breve, pacientes terminais devem testar um tratamento experimental em Goiânia.

“É muito interessante saber que a partir de uma especiaria você pode obter um tratamento para o câncer, por exemplo”, ressalta Marcella Carneiro.

O maior desafio é aumentar a absorção da curcumina pelo corpo humano. Para isso, os pesquisadores precisam vencer outro obstáculo: dominar a técnica de extração da curcumina. O extrato da planta é importado – e caríssimo.

“Pagamos em torno de R$ 1 mil por dez gramas de curcumina pura. Então, se conseguirmos extrair curcumina de alta qualidade, pura, com certeza o medicamento vai se tornar mais eficaz e vai ser bem mais barato. Eu diria que, para a saúde, esse pó amarelo vale ouro”, constata Lídia Abreu.

Mais um motivo para popularizar, no Brasil, essa especiaria tão comum na Índia.

Chá alivia dores musculares e dá energia a atletas

Eles resistem aos piores esforços. Provas que duram de dez horas a seis dias. São os atletas de alta performance. Saudáveis? Sim, mas com um alto desgaste para o corpo. O esforço extremo libera no corpo os radicais livres, que aceleram o envelhecimento.

“Eu já tenho 48 anos de idade. Fazendo corrida de aventura, um esporte muito desgastante, não posso me dar ao luxo de envelhecer mais ainda”, diz o dentista Vescio Barreto.

Normalmente eles usam antiinflamatórios e suplementos para evitar dores e lesões. Seria possível substituir esses medicamentos por algo mais natural? Foi justamente um grupo de atletas que exige o máximo do metabolismo que pôde testar os efeitos de um chá de especiarias em Natal, no Rio Grande do Norte.

Durante 60 dias, um grupo de dez atletas tomou o chá. Outros dez não tomaram e serviram de controle para a eficácia da pesquisa. Mas muitos deles ficaram desconfiados.

“Eu não acreditava nisso. Tive que ver para crer”, conta o administrador Karim Barreto.

A pesquisa foi desenvolvida na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mas o chazinho não é muito diferente daqueles caseiros: erva-doce, canela e semente de mostarda em porções iguais. Essas especiarias foram escolhidas por combaterem o envelhecimento. São ótimos antioxidantes.

“A canela é uma das especiarias mais utilizadas no mundo inteiro. Ela tem alto poder conservante. Inclusive, na época das múmias do Egito, era usada como conservante”, lembra a cientista em alimentos Ana Vládia Moreira.

Mas os pesquisadores pensaram também no gosto quando fizeram a escolha. Queriam algo que pudesse virar uma rotina.

“Quando propomos algo importante para a saúde, para não ser algo que simplesmente tomamos sem prazer, temos que pensar também no lado sensorial. E essa mistura é bastante agradável ao paladar das pessoas”, assegura Ana Vládia Moreira.

E também é um chá simples, fácil de fazer.

“O ponto ideal [da água] é quando começa a levantar bolhinhas. Você apaga e está no ponto de colocar na xícara. Com a água pronta, colocamos o sache”, ensina Ana Vládia Moreira.

A dose diária é de uma colher de chá em uma xícara de água. Ou seja, não adianta tomar um bule de chá. O necessário mesmo é uma xícara.

A pesquisa mostrou que a maioria dos atletas teve uma redução do MDA, substância que causa lesões musculares e dores. O chá ajudou a diminuir a sensação de desgaste físico depois dos exercícios.

"Eu senti que durante os treinos longos e as corridas não tinha tanta necessidade de fazer uso de antiinflamatórios", conta a zootecnista Inês Greca.

"As dores musculares que sempre vêm depois diminuíram bastante depois desse tratamento", afirma Karim Barreto.

E se foi bom para quem se desgasta tanto, Ana Vládia Moreira diz que a mistura pode ter bons efeitos no dia-a-dia de qualquer pessoa.

“Por ter papel antioxidante e antiinflamatório, ele acaba sendo universal. Onde processos inflamatórios estão presentes, como uma simples dor de cabeça ou mesmo uma cólica, ele pode vir a ter efeitos atenuantes, principalmente preventivos se a pessoa tiver o hábito de beber”, explica a cientista de alimentos.

A nutricionista Jussele Lourenço acredita que o resultado da pesquisa pode combater um grande problema entre atletas amadores: a automedicação. Eles poderiam trocar os remédios pelo chá, que pode ser consumido como qualquer outro alimento. “Um alimento que reduza o estresse oxidativo. Muitas vezes eles vão diminuir essa inflamação com automedicação”, diz.

Para quem passa a vida por matas, estradas e rios, o resultado foi animador.

“Não há um alimento por si só capaz de reverter uma doença. Há um conjunto de fatores. Cabeça boa, corpo em movimento e uma pitadinha de sabor não fazem mal a ninguém”, finaliza Ana Vládia Moreira.